3 de nov. de 2009

Aos 92 anos, musa do Pink Floyd derrota os Beatles





MARIANNE PIEMONTE
colaboração para a Folha de Londres

O racionamento de comida acabara de terminar no Reino Unido pós-guerra e, nos Estados Unidos, Elvis Presley começava a carreira. Era 1952 e Vera Lynn, a namoradinha das Forças Armadas britânicas, alcançava pela primeira vez o topo das paradas com o disco "We'll Meet Again".
No último dia 15 de setembro, aos 92, Lynn fez história novamente. Tornou-se a artista viva mais velha a colocar um disco na primeira posição do ranking de vendas, tomando o posto de Bob Dylan, que o fizera aos 67. "We'll Meet Again - The Very Best of Vera Lynn", com 24 músicas que ela cantava para as tropas no front, bateu os aclamados discos remasterizados dos Beatles e deixou para trás o novo do Arctic Monkeys. Ela é a cantora que inspirou o Pink Floyd na faixa "Vera", de "The Wall" (1979).


Com as comemorações dos 70 anos do início da Segunda Guerra, as músicas da nonagenária voltaram a tocar. No entanto, ela não receberá por isso. Como foram gravadas há mais de 50 anos, ela não detém mais os direitos das canções pelas leis britânicas. Mas a gravadora Decca, um braço da Universal Music, anunciou que a gratificará. Outro presente que recebeu foi o título de Mulher do Ano, no dia 12, em Londres.
Ela ficou feliz, mas sentiu estranheza porque a música não faz mais parte de sua vida desde a morte do marido, o clarinetista e seu empresário Harry Lewis, em 1990. "Tenho um gramofone em casa, mas nunca o ligo. Nem no banho eu cantarolo", disse ao "Sunday Times".
Vera começou a cantar aos sete anos em clubes para homens no leste de Londres. Aos 11, deixou a escola para excursionar com um show de variedades pela Grã-Bretanha. Em 1941, comandava o programa "Sincerely Yours" na rádio da BBC. Não foi surpresa que as músicas empostadas, estilo diva do jazz, fossem escolhidas para alegrar as tropas.
Vera voava nos aviões da Força Aérea Real e passava meses acampada com as tropas britânicas em instalações idênticas às dos soldados. O comediante Harry Secombe, do programa "Goon Show", o mais popular no radio britânico da época, disse ao "The Independent" que "Churchill não havia abatido os nazistas, mas a voz de Vera os tinha encantado para a morte". Atualmente, ela não entende por que há soldados britânicos no Afeganistão. "Na Segunda Guerra, lutavam pelo nosso país. Hoje, estão envolvidos em problemas de outros países. Alguém pode me explicar?", disse ao "Sunday Times".
Hoje, as aventuras são duas temporadas anuais na França em busca de sol. No resto do ano, vive na pacata Sussex. Cozinha, faz compras e retira sua aposentadoria sozinha. Vera, que foi considerada a Marlene Dietrich britânica, diz que o segredo da saúde é a rotina. Acorda às 7h30, nunca pula uma refeição e não dorme maquiada.


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