2 de set. de 2009

Pink Floyd reunido é milagre de Bob Geldof



David Gilmour (esquerda) e Roger Waters
David Gilmour (esquerda) e Roger Waters, julho de 2005
Bob Geldof pode não conseguir todas as reinvidicações apresentadas ao G8 para acabar com a fome na África, mas deve ser responsabilizado pelo milagre de ter reunido em um mesmo palco a formação clássica do Pink Floyd.
Muitos críticos consideravam essa a mais improvável e uma das mais aguardadas voltas da história do rock.
A banda havia se separado em meio a acusações, muito ressentimento e guerras jurídicas em meados dos anos 1980.
O baixista, vocalista e letrista principal, Roger Waters, declarou que a única possibilidade de voltar a tocar com seus ex-colegas seria se algum dia eles precisassem desesperadamente de dinheiro.
Impossível
O Pink Floyd é a quarta banda que mais ganhou dinheiro na história da música, atrás apenas dos Beatles, Rolling Stones e U2, e nenhum deles perdeu substancialmente o patrimônio.
O grupo comandado pelo guitarista David Gilmour ocasionalmente durante cerca de dez anos levando o nome de Pink Floyd (conquistado nos tribunais, contra Roger), também dava poucos sinais de volta.
Ele mesmo havia declarado já não sentir motivação para "carregar esse peso".
As chances de uma reunião da chamada formação clássica da banda pareciam tão pequenas quanto eram as de um show que reunisse John Lennon e Paul McCartney durante os anos 1970.
Realidade
Londres, 2 de Julho de 2005. Já passavam das 23h e o gramado do Hyde Park já estava escuro após um dia inteiro de shows.
Vinte dias após o anúncio de que Roger Waters, David Gilmour, mais o tecladista Rick Wright e o baterista Nick Mason colocaram as desavenças de lado para contribuir para uma causa maior, a idéia de presenciá-los no palco parecia irreal.
Com o pulsar da introdução da faixa Breath, Speak To Me saindo das caixas de
David Gilmour (esquerda) e Roger Waters, 1971
David Gilmour (esquerda) e Roger Waters, 1971
som, vem uma sensação de familiaridade. A música, que abre o disco Dark Side of The Moon surge aos poucos, como uma imagem ganhando foco.
Mas é inequívoca. Ouve-se a consistência do baixo de Waters, menos técnico do que os músicos que acompanharam o Pink Floyd dos anos 80 e 90, mas com a autoridade de estar sendo tocado por quem a compôs.
Os sete telões do Hyde Park focalizam Gilmour quando ele começa a cantar. Pouco se vê de Wright ou Mason.
Como na faixa Echoes, que abre o filme Live At Pompei, de 1972, da banda, leva um tempo até que as câmeras capturem Waters, aumentando o suspense.
Syd Barrett
Mas ele está lá. Os telões ao lado do palco de repente deixam de mostrar a mesma imagem e se vê, do lado esquerdo Gilmour, e do direito, Waters.
Breath não é um hit popular como Another Brick in the Wall. O Pink Floyd também não é Robbie Williams, que conseguiu fazer a grande maioria dos 200 mil presentes cantarem em uníssono. Essa nunca foi a intenção.
O clima, ao contrário, é hipnótico, delicado, quase intimista. Money vem em seguida, como não podia deixar de ser, afinal, dinheiro e suas consequências são o motivo alegado para tudo o que está acontecendo neste dia.
Mason já havia declarado que eles não eram as pessoas mais extrovertidas do mundo. Eufemismo inglês.
Ao longo dos anos, o público se acostumou a ver o Pink Floyd como uma banda sem rosto, as emoções sendo geradas pelo reflexo da música na mente de cada um.
Waters fala ao microfone que está sendo um dia bastante emocional para ele, "por estar dividindo o palco com esses três caras". Não existe motivo para se duvidar dele.
Imediatamente, o homem que escreveu "morrer em desespero calado é a maneira inglesa" parece perceber que está sendo emotivo em demasia e diz que existe uma razão maior por trás disso do que apenas tornar sua obra viva outra vez.
O baixista sempre foi o vilão da banda.
Desde a época em que eles demitiram Syd Barrett, em 1968, e Waters assumiu a liderança após uma disputa que teria azedado irremediavelmente sua relação com Wright, passando pelo período ditatorial dos álbuns Animals, The Wall e Final Cut, ele nunca foi dado a manifestações de efusividade.
Menos ainda para com seus colegas de banda.
Mas esta noite é diferente. Waters divide com Gilmour uma parte dos vocais de Wish You Were Here, e, se o resultado expõe as limitações e a aparente fragilidade da voz do baixista de 61 anos, o mais importante é a consciência de se estar presenciando um momento histórico na ode ao ex-amigo e colega que ficou louco.
Será que Syd Barrett está com a televisão ligada nesse momento?
O fim
Pausa e escuridão. O palco se torna vermelho quando o peso do acorde de si menor anuncia a chegada de Comfortably Numb. Todos sabem que está chegando ao fim.
Há anos fãs de Pink Floyd discutem se as versões posteriores da música, apresentadas nas carreiras solo de Waters e as que Gilmour canta com o Pink Floyd fazem jus à original.
Desta vez, a voz soturna e torturada de Waters se sobrepõe à celestial de Gilmour com perfeição, como se estivesse provando que os dois são ingredientes fundamentais para a química do Pink Floyd.
Vem o segundo solo e o guitarrista toca palhetando vigorosamente as cordas para atingir uma intensidade emocional ainda maior através dos harmônicos. Por trás deles, o muro projetado carrega o slogan da campanha de Bob Geldof.
Quando a música termina, os quatro chegam à beira do palco em um abraço de equipe. Já à beira da saída, Waters puxa Gilmour para um abraço individual. Momento histórico.
Se essa foi, como eles afirmam, apenas uma pausa na guerra travada entre as duas facções, eles não poderiam ter escolhido lugar melhor para o réquiem, dado o histórico de grandiosidade e preocupação social da banda.
Aliás, poderiam.
Eles bem que podiam resolver fazer uma grande turnê mundial com shows longuíssimos, onde eles tocariam material de todas as fases, saciando assim a vontade de milhões.

Fonte:Rodrigo Durão Coelho

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